14.7.07

A menina que roubava corações

De dia dos namorados recebi um presente fantástico, um livro. No entanto, foi com uma dor imensa que o deixei na estante para arrecadar poeira. Afinal, junho não é um bom mês para se ganhar livros. Eles devem aguardar até julho para na calmaria das férias serem saboreados palavra por palavra. Que crueldade!
Ao abri-lo para dar início a leitura vi a declaração marcada pelo dia 7. Ri, pois foi inevitável não lembrar de tal data. Quando recebi o presente pedi uma frase e uma assinatura na primeira página. Sem saber o que colocar, ELE brincou: “Que tal: para a menina que roubou meu coração?”. Com o sorriso marcado em meu rosto diante da respectiva lembrança, comecei a ler “A menina que roubava livros”. Isso mesmo, não tem coração nenhum no título original.

Observações gerais sobre o livro:
Narrador - a Morte
Contexto - Alemanha nazista
A menina – Liesel Meminger

“Na rua Munique, puseram-se a observar.
Outros se deslocaram a seu redor e à sua frente.
Assistiram à passagem dos judeus pela rua, como a um catálogo de cores. Não foi assim que a menina que roubava livros os descreveu, mas posso lhe dizer que era exatamente isso que eles eram, pois muitos iam morrer. Cada qual me saudaria como sua última amiga verdadeira, com os ossos parecendo fumaça e as almas arrastando-se atrás.
Quando eles chegaram de vez, o barulho de seus pés pulsou sobre a rua. Seus olhos eram enormes, nos crânios esfaimados. E a sujeira. A sujeira moldava-se neles. As pernas cambaleavam, à medida que eles eram empurrados pelas mãos dos soldados – alguns passos trôpegos de corrida forçada, antes do lento retorno a um andar desnutrido.
Hans os observava por sobre as cabeças da platéia que se aglomerava. Tenho certeza de que tinha os olhos prateados e tensos. Liesel olhava pelas brechas ou por cima dos ombros.
Os rostos sofredores de homens e mulheres esgotados estendiam-se para eles, implorando não tanto ajuda – já haviam ultrapassado essa fase -, mas uma explicação. Apenas alguma coisa que diminuísse aquela perplexidade.
Seus pés mal conseguiam erguer-se da terra.
Havia estrelas-de-davi colada em suas camisas, e a desgraça prendia-se a eles como por designação.
(...)
A seu lado, os soldados também passavam, dando ordens para eles se apressarem e pararem de resmungar. Alguns desses soldados eram apenas meninos. Tinham o Führer nos olhos.
Ao observar tudo isso, Liesel teve certeza de que aquelas eram as mais pobres almas ainda vivas. Foi o que escreveu sobre elas. Seus rostos macilentos esticavam-se pela tortura. A fome os devorava, enquanto eles seguiam em frente, alguns olhando para o chão, para evitar as pessoas que ladeavam a rua. Alguns lançavam olhares súplices para os que tinham ido observar sua humilhação, esse prelúdio de sua morte. Outros imploravam que alguém, qualquer um, desse um passo à frente e os tomassem nos braços.
Ninguém o fez.”

Página 351. A menina que roubava livros. Markus Zusak.

Pois bem, acabei hoje de ler o livro. Uma palavra: maravilhoso. Em lágrimas o fechei e fiquei alguns minutos olhando a capa. Branca, clara. Eu o indico com absoluta certeza. Até o empresto se necessário. Porém, não deixem de ter contato com um relato diferente do nazismo pela inocência de uma menina.

* Sobre ELE, não se preocupem, não roubei não seu coração. Apenas guardo um pedaço dele comigo para nas frias noites desse inverno não me sentir tão sozinha. Ameniza a saudade...

6 comentários:

Beto disse...

Mas tem talento essa minha amiga eein?
Muito bom o texto tchê,analogia bem pensada.
Continua assim né Serial Killer de corações.Beijos.

Giulia Perachi disse...

Lindo o texto..
Lindas palavras..
Mas, Nanda, confessa que tu roubou sim o coração do teu noivo! hehehehe

Ah, a primeira da fila de empréstimo sou EU, ok?!

Beijo, beijo!!

Saudades masterr!!

Thales Barreto disse...

Eu estava em Florianópolis quen esse livro me chamou atenção pela primeira vez. Não só a minha mas de minha prima que estava comigo. É um livro que, só pela capa, já é instigante. Infelizmente não comprei o livro, mas sempre que posso dou uma "olhada na capa" quando me perco em alguma livraria. Detalhe. Quando li o nome desse postm associei direto a esse livro. Parece mesmo ser maravilhoso. Abraços e bom texto. Parabéns. =D

Thales Barreto disse...

http://www.esnips.com/nsdoc/99ea0853-111a-491e-b27f-db6905170fd0

Isso é Crime... Mas ta aí o link pra quem quizer baixar o Livro. Comprá-lo é bem mais interessante. Abraços.

Liza Mello disse...

ananda! que bom que resolveu atualizar o blog! a nossa turma vai dominar a blogosfera... hehe

bem interessante o post, fiquei com vontade de ler o livro!

Carolina Tavaniello P. de Morais disse...

Adorei o texto. E já aviso que quero o livro hehe

Continua atualizando que é bom...eu leio sempre!

Beijos