29.6.07

Fenômeno interativo

A Internet modificou as estruturas da comunicação em todo o mundo. Desde seu surgimento, novas possibilidades de acesso e reprodução de informação foram geradas. Ela permite acompanhar fatos e notícias de qualquer país, além de ser aliada de jornalistas e editores para identificação de fontes e de contatos que possam colaborar com a sua atividade profissional.
É possível observar outras alterações e melhorias no jornalismo a partir da Internet. A comunicação entre jornalista, fonte e leitor foi dinamizada e incrementada por fóruns, programas de conversação, emails, enfim, por diversos novos recursos. A consulta em grandes bases de dados e em variados arquivos disponíveis proporciona contextualização e embasamento em múltiplos assuntos. Em síntese, é um fenômeno de acessibilidade e interatividade que se estabelece.
O jornalismo digital desenvolveu ao longo dos anos características próprias que o diferenciam dos outros meios. Tais peculiaridades são abordadas por Anelise Pacheco (2001, p.45):

Diferentemente do rádio, da televisão e do telefone, a Internet oferece, simultaneamente, uma variedade de modalidades de comunicação, ao mesmo tempo em difusão e em transação: um a um, um para todos e todos para todos.

Já o sociólogo francês Pierre Lévy (1999) observa que a Internet é composta por informações ou mensagens multimodais que utilizam diferentes modalidades sensoriais, como a visão, a audição, o tato e sensações proprioceptivas. Eis que surge então a idéia do texto como primário. Ele nada mais é do que uma base de criação que pode ser incrementada a partir de outros recursos, entre eles ressalto o vídeo e a fotografia.
Pinho (2003, p. 58) conclui, então, as diferenças entre a Internet e os outros meios de comunicação social:

Portanto, o jornalismo digital diferencia-se do jornalismo praticado nos meios de comunicação tradicionais pela forma de tratamento dos dados e pelas relações que são articuladas com os usuários.

Ao pensar nas peculiaridades do meio digital, deve ser destacada a não-linearidade. Em um arquivo impresso, por exemplo, o leitor mantém uma certa ordem de leitura que depende da composição das páginas. Já em um site não existe uma seqüência predeterminada, a lógica que prevalece é a da associação de idéias. A instantaneidade da Internet também vale ser ressaltada. Ela é rápida e abrangente, logo em seguida do acontecimento de um fato importante a sua cobertura completa já está disponível na rede. Por mais que a televisão e o rádio também entrem com plantões especiais, é no jornalismo on-line que a notícia se torna perene.
Para completar as principais características da Internet cito ainda a dirigibilidade (sem restrições de espaço e tempo), os baixos custos de produção (comparados com a televisão, por exemplo) e a interatividade. Esse último ponto é definido pelo autor José Benedito Pinho (2003, p. 244) como:

Processo pelo qual os usuários interagem com o conteúdo. A interatividade varia da mais simples até a mais complexa. Por exemplo, quando os usuários clicam em um botão de avanço ou retorno de página, eles estão interagindo de um modo simples. Uma forma mais complexa de interatividade é o preenchimento de um formulário on-line. Uma interatividade altamente complexa envolve usuários jogando um game da Internet, competindo com jogadores espalhados em todo mundo.

A mídia tradicional, de forma geral, é um veículo de mão única. A informação é transmitida e a possibilidade de retorno por parte do receptor existe, entretanto se torna praticamente nula diante das alternativas proporcionadas pela Internet. É válido destacar que um conteúdo on-line que não ofereça um mínimo de interação tem pouco valor para o usuário.

Um usuário da Internet tem, ao mesmo tempo, a possibilidade de ser emissor ou destinatário, comunicar, informar ou se informar, interagir ou ser um espectador passivo, estabelecer uma relação pública ou privada/ particular. (PACHECO, 2001, p. 45)
A audiência diante da rede tem que buscar o que procura, sendo que existem infinitas ofertas. Surge o conceito de receptor ativo e da web como uma mídia pull, ou seja, que deve puxar o interesse e a atenção do internauta. Em uma comparação, o rádio é push, pois as mensagens são empurradas ao ouvinte sem que ele tenha solicitado ou determinado o que exatamente queria (PINHO, 2003).
Ao falar de interatividade na web é inevitável não dar relevância ao correio eletrônico. É principalmente a partir de tal ferramenta que os internautas se dirigem aos jornalistas. O contato ocorre com diferentes finalidades, porém a interação é estabelecida. Por email são enviadas críticas, comentários e elogios. O leitor pode até mesmo participar do processo de construção de reportagens, enviando sugestões de pauta ou indicando fontes e caminhos a serem seguidos.
Nos blogs é o formato de comentários que encaminha o receptor ao responsável pelos conteúdos. O texto é diretamente analisado. Já nas comunidades virtuais são os fóruns sinônimos de interatividade. No entanto, todas as maneiras citadas são de grande valor e auxiliam na consolidação da Internet como meio de comunicação social de forte influência.
A interação permite, então, a melhoria dos serviços oferecidos e das notícias divulgadas. A partir dela o jornalista aprimora a sua atividade e obtém um retorno sobre a sua produção. O processo que antes era de mão única passa a ter duplo sentido. O leitor interage com o profissional do jornalismo e, portanto, torna-se tanto uma fonte de informação quanto um usuário.

5.6.07

Cuidado, frágil!

O imediatismo é sobreposto mais uma vez na sociedade. A questão de agora é em torno das plantações de eucaliptos. Deve-se ou não permitir que elas dominem a metade sul do Rio Grande do Sul? Pergunta difícil de ser respondida, ainda mais diante de tantas pressões e interesses envolvidos.
O governo estadual vive um impasse. De um lado, a argumentação de grandes empresas como a Aracruz, Votorantim e Stora Enso, fabricantes de celulose que tem o eucalipto como fundamental em seu processo de produção. Em contraponto estão os ambientalistas e órgãos públicos preocupados com a preservação do ecossistema da região em destaque, o pampa. A apreensão é em função das conseqüências de plantar tal espécie de árvore, pois ela necessita de muita água para se desenvolver e prejudica o relevo, deixa o solo muito ácido.
As justificativas para a medida de “desenvolvimento” são as mais diversas. Todas giram em torno de progresso, idéias utópicas de trabalho e bem estar para todos. Entretanto, creio que o retorno financeiro instantâneo é o mais visado, e não a qualidade de vida da população em si. E afinal, o dinheiro seria para as pessoas? Com certeza não de forma direta, a parte mais generosa iria para os “grandes” de sempre.
Eis que surge então a legislação como um frágil produto maleável. Ela é tão flexível quanto o governo, tudo é em torno de interesses egocêntricos e imediatos. O eucalipto é um risco de degradação e sua plantação apenas representaria uma ilusória melhora momentânea. E daqui vinte anos? A metade sul vai estar no ápice de seu progresso e as pessoas festejaram a decomposição do ambiente no qual vivem? Acredito que o fator ambiental não é tão secundário quanto possa parecer...
Na busca por soluções alternativas para a questão, o turismo aparece como principal impulso na revitalização da parcela sul do estado. O incentivo e a criação de rotas culturais e históricas seria destacável para o real desenvolvimento das cidades da região. Além disso, a pesquisa e o investimento em pecuária e agricultura são essenciais. O processo é lento, todavia se for contínuo realmente trará mudanças e benefícios duráveis.