18.9.07

O pior jogo, mesmo com a vitória

Domingo era dia de Gre-Nal. Estava ansiosa durante toda a semana, afinal aquele seria um clássico diferente, para mim ao menos. Fui cedo rumo ao Olímpico, por volta das três da tarde. Encontrei meu pai e meu irmão na fila para entrar, troquei umas poucas palavras com eles e me dirigi até a assessoria.
A sala estava mais cheia do que habitualmente, no entanto entrei sem hesitar. Larguei minha bolsa em um canto e recebi a primeira informação relevante do dia: “Tem chocolate”. O Rodrigo adivinhou minha vontade naquele momento, ou melhor, trouxe o desejo em um copo médio de plástico até mim. Nós dois comemos satisfeitos aquela quantidade considerável de doce. Ah, a glicose!
Fiquei no computador até o chamado para minha primeira missão do dia. Era para eu corrigir um texto da Bianca. Comecei a lê-lo, mas um barulho interrompeu minha concentração. Havia iniciado uma briga entre brigadianos e gremistas próximo ao portão principal do estádio. Muita correria e gritos assolaram minha mente. Todavia, conclui meu serviço e logo tudo voltou ao normal na rua.
Em seguida eu deveria tirar algumas fotos do programa Conversa Tricolor, na Grêmio TV. Fui até lá com um sorriso no rosto, embora estivesse meio triste por ver todos com o símbolo do Grêmio estampado em camisetas e bandeiras. Eu usava uma blusa branca e um casaco azul, uma maneira sutil de referenciar meu tricolor.
Após realizar a tarefa, voltei para assessoria. Começava a ficar nervosa, a movimentação já havia diminuído e o jogo logo começaria. Imaginava a torcida vibrando, o hino como música de fundo da festa da arquibancada. Podia visualizar meu pai e meu irmão, porém havia um lugar vago ao lado deles, era a minha posição.
Vi que tais ilusões ficariam apenas na minha cabeça, afinal, não olharia a partida nem com eles nem das cabines, como muito desejava. Recebi um discurso do Túlio Macedo para digitar e ficaria ali na sala mesmo.
Um sentimento estranho tomou conta de mim. Era diferente estar no Monumental daquela forma. Eu queria gritar, vibrar, xingar, mas era hora de digital o discurso do Túlio Macedo.
Os times entraram em campo e soterrada naquele ambiente queria chorar de raiva. Sim, a ira tomou conta do meu coraçãozinho. Não queria ser adulta naquela hora, não me importava mais com meu estágio.
Peguei alguns trocados e fui até o bar respirar um pouco. Comprei um pacote de Trakinas de chocolate. Caminhava lentamente até a assessoria quando o som do Olímpico mudou. Corri segurando firmemente as bolachas, eu podia cair, no entanto meu pequeno prazer adocicado precisava estar seguro. Cheguei ofegante e não acreditei, tinha sido feito um gol. Fiquei ainda mais decepcionada, mesmo com o placar favorável ao Grêmio.
Devorei as Trakinas. Não duraram cinco minutos. Elas tentaram me conformar diante do meu sentimento, mesmo assim não foram suficiente. Fui para casa quieta, em silêncio, quase em luto. Entrei no apartamento e sentei no sofá. Enfim, meu caminho estava sendo trilhado. Aquele era o primeiro passo. Quero ver quando for a vez da imparcialidade no futebol. Daí nem as bolachas vão ajudar...

12.9.07

A primeira vez

Ansiedade. Diz o meu caro amigo Aurélio que é sinônimo de aflição. Talvez seja. No entanto, para mim era muito mais naquela noite quente de setembro. Enquanto me revirava na cama tal palavra não escapava da minha mente. Sim, eu estava ansiosa.
Sentia-me como uma criança que teria uma excursão escolar no dia seguinte. Meu compromisso não era exatamente uma viagem, porém a expectativa era semelhante. A cada minuto lembrava de algo que deveria carregar comigo ao sair de casa pela manhã. Então, levantava, procurava o objeto desejado e deitava novamente. Essa seqüência foi repetida pelo menos três vezes.
Quando enfim deixei a euforia de lado foram os sonhos que me atormentaram. Recordo que em um dos meus devaneios eu havia quebrado um dente canino da minha boca. Não sei como isso ocorreu nem sequer a continuação da história, apenas tenho a certeza de que vou perguntar maiores detalhes sobre a interpretação do respectivo sonho para a minha tia assim que vê-la.
Acordei com a sensação de alívio pelo fim da noite. Faltava pouco. Tomei um banho e ao me arrumar fui vaidosa como geralmente não sou. Sai levemente atrasada, afinal, conferi minha bolsa quatro vezes antes de deixar o apartamento.
Na aula o tempo parecia não passar. Tentava me concentrar para redigir o texto solicitado, mas meu pensamento estava distante. Fui quase a última a terminar e dali segui para o almoço. Durante a refeição não ouvia as palavras dos outros. Só pensava em determinado assunto. Eu me encontrava em outro plano, flutuava.
Chegou a hora. Estava me dirigindo para lá e a ansiedade realmente se fez presente. Imaginava todas as situações que poderia encontrar, queria me sentir preparada, embora estivesse totalmente insegura.
Entrei na sala e ali estava. Meu primeiro emprego olhava para mim. Ele se materializava naquelas mesas, nas folhas bagunçadas, nos computadores. Foi uma emoção inesquecível. Creio que pela terceira vez na vida me senti adulta. A primeira vez havia sido na minha menarca (que palavra horrível). A segunda na descoberta mágica da adolescência (sem maiores comentários).
Tudo se passou tranqüilamente. Era como se eu estivesse em casa. E creio que eu estava. Estava não, estou e estarei. Afinal, o Olímpico há anos é meu conhecido, quase íntimo. Agora, meu novo lar. Assim espero. E acredito.

8.9.07

Fragilidades

Devia ser por volta das duas da madrugada. Minhas pernas tremiam sutilmente. As mãos encostavam uma na outra como se procurassem um lugar seguro. O olhar desviava, talvez por medo ou dúvida. Os sentimentos eram confusos e meu único desejo era que aquele momento acabasse.
Consegui perceber por um instante o frio em meu ombro descoberto pelo decote da blusa. Um arrepio se fez em meu corpo. O silêncio provocava em mim uma agonia inexplicável. Queria fechar os olhos e dormir ali mesmo, no vazio daquele carro.
As palavras voltaram a ocupar o espaço. No entanto, elas não soavam da melhor maneira possível. Eram sílabas perdidas, raciocínios interrompidos. Foi então que ouvi o sim que não esperava. Aconteceu.
Não foi uma resposta afirmativa a um pedido de casamento. Certamente não havia sininhos e estrelas ao nosso redor. Foi um sim de fim. Vocábulos parecidos, não acham? Naquela hora mais do que nunca, talvez eu mesma tenha ouvido fim na minha mente ao invés do sim baixinho pronunciado por ele.
Fiquei paralisada. Não era possível. Eu não podia acreditar. Eu não deveria acreditar. Foi então que senti. Nunca havia percebido tal sensação. As lágrimas vieram de forma avassaladora, porém o orgulho as impediu que caíssem. Se não fosse um momento tão triste eu diria que tinha sido divino.
Outra vez as palavras me faltaram. Como é possível, elas sempre me abandonam quando mais necessito delas. Fiquei lá parada, definitivamente imóvel, na tentativa de entender que aquilo não era verdade. Contudo, era real. Acredito que fiquei com pena de mim. Fiz um beiço involuntário. Não queria demonstrar as minhas fraquezas, porém era mais forte que eu. A mulher desabou e ali estava apenas a menininha, sozinha. Coitadinha.