18.4.07

Crítica do filme 21 gramas da cadeira de Jornalismo de Opinião

Quanto cabe em 21 gramas?

Três vidas em uma encruzilhada. Uma mãe fragilizada por uma grande perda, um ex-presidiário em busca de salvação e um homem com problemas de saúde. Qual a semelhança entre eles? Talvez a resposta esteja na complexidade dos seus destinos marcados por fraquezas, emoções e, acima de tudo, transtornos pessoais.
O filme “21 gramas”, de Alejandro González Iñárritu, é intrigante. Cristina Peck, interpretada por Naomi Watts, não consegue esquecer do acidente que paralisou a sua vida. Jack Jordan, papel de Benicio Del Toro, é posto diante do seu passado de crimes e de seu presente religioso. Já Paul Rivers, personagem do ator Sean Penn, se perde em meio a um amor movido por gratidão.
Tais tramas paralelas são transpostas. A história, inicialmente confusa, toma um rumo surpreendente. A tensão acompanha o espectador durante todo o filme e exige que ele se mantenha atento. Ao mesmo tempo, os fatos vão se revelando e se encaixando na linearidade correta. Cenas que se repetem completam o “efeito quebra-cabeça”.
Em “21 gramas” o destaque é para o elenco. A construção dos personagens é complexa e realizada com muito sucesso pelos atores escolhidos para os principais papéis. O filme inclusive recebeu duas indicações ao Oscar, de melhor atriz (Naomi Watts) e de melhor ator coadjuvante (Benicio Del Toro). Benicio está espetacular. Ele interpreta um homem seco, vazio e, por vezes, até cruel. Sua atuação expõe os conflitos internos de Jack Jordan em relação a sua família, aos seus valores e as suas atitudes, com total êxito.
Outro aspecto relevante na obra é a sua edição e composição. O ritmo acelerado é conduzido pelas cenas que se misturam no tempo. Ângulos não convencionais são utilizados nas filmagens. Movimentos de câmera diferenciados dão ainda mais intensidade as ações dos atores.
A fotografia não é extraordinária, porém é de qualidade. Os cenários são bem compostos e se encaixam de acordo com as cenas e personagens. O que poderia ter sido melhor desenvolvido é o fator musical. A trilha sonora contribuiu com o tom de tensão da história, entretanto, não foi explorada como poderia ter sido.
Sentimentos de vingança e culpa marcam as vidas dos personagens. Questionamentos também compõem os três destinos. Afinal, quanto cabe em 21 gramas? Para alguns talvez caiba um último suspiro e um alívio para os problemas mais profundos da alma humana.

11.4.07

Casamento em casas separadas

Opinião e informação não se afastam. No âmbito do jornalismo, em especial, é comum a divisão de tais segmentos, como se fosse possível elaborar qualquer tipo de texto sem mesclar características pessoais e ocorrências. Os meios de comunicação de hoje ainda vivem no mito da imparcialidade sem perceber que a simples análise do repórter já molda os fatos.
Ao observarmos as editorias de um jornal ou a organização de uma revista é notável partes onde predomina a opinião (colunas, artigos) e outras onde prevalece a informação (notícia, reportagem). Acredito que tal modelo não é nada além de um reflexo de uma teoria ultrapassada e já superada. A prática jornalística evoluiu e mesmo assim não está estagnada. Cada escolha do repórter é movida por conceitos internos e individuais. A constituição de um texto em si espelha marcas de quem o escreve, tanto nas palavras utilizadas quanto na formação das frases. A opção por determinada entrevista ou fonte já conduz um ponto de vista que penetra nas entrelinhas. Até o ângulo de uma fotografia conta com a interferência, por menor que seja, do olhar de quem a tira.
A imparcialidade surge então como um termo questionável no jornalismo. Ela é real ou apenas uma utopia? Creio que seja um objetivo impossível, ou no mínimo, improvável. Já no primeiro semestre as faculdades expõem a imparcialidade dentre as características da profissão do jornalista. Aos poucos, a lenda é despida e o que se encontram são formas mais próprias de se conduzir as palavras. Porém, o dilema se estende ao mercado de trabalho, afinal, os veículos de comunicação insistem em repetir o discurso de que são imparciais e de que notícia é uma coisa e opinião é outra totalmente isolada.
Então o casamento entre o dito jornalismo informativo e o de opinião segue mesmo que sob as divisões editoriais. O repórter, por mais que não queira deixar a sua percepção influenciar os rumos da sua escrita, é alvo da sua individualidade. É importante ressaltar também que assim como a opinião guia as notícias de forma sutil e indireta, os fatos também suportam as redações autorais. Todavia, nenhum esforço para qualquer mudança é feito. E tudo segue...