8.9.07

Fragilidades

Devia ser por volta das duas da madrugada. Minhas pernas tremiam sutilmente. As mãos encostavam uma na outra como se procurassem um lugar seguro. O olhar desviava, talvez por medo ou dúvida. Os sentimentos eram confusos e meu único desejo era que aquele momento acabasse.
Consegui perceber por um instante o frio em meu ombro descoberto pelo decote da blusa. Um arrepio se fez em meu corpo. O silêncio provocava em mim uma agonia inexplicável. Queria fechar os olhos e dormir ali mesmo, no vazio daquele carro.
As palavras voltaram a ocupar o espaço. No entanto, elas não soavam da melhor maneira possível. Eram sílabas perdidas, raciocínios interrompidos. Foi então que ouvi o sim que não esperava. Aconteceu.
Não foi uma resposta afirmativa a um pedido de casamento. Certamente não havia sininhos e estrelas ao nosso redor. Foi um sim de fim. Vocábulos parecidos, não acham? Naquela hora mais do que nunca, talvez eu mesma tenha ouvido fim na minha mente ao invés do sim baixinho pronunciado por ele.
Fiquei paralisada. Não era possível. Eu não podia acreditar. Eu não deveria acreditar. Foi então que senti. Nunca havia percebido tal sensação. As lágrimas vieram de forma avassaladora, porém o orgulho as impediu que caíssem. Se não fosse um momento tão triste eu diria que tinha sido divino.
Outra vez as palavras me faltaram. Como é possível, elas sempre me abandonam quando mais necessito delas. Fiquei lá parada, definitivamente imóvel, na tentativa de entender que aquilo não era verdade. Contudo, era real. Acredito que fiquei com pena de mim. Fiz um beiço involuntário. Não queria demonstrar as minhas fraquezas, porém era mais forte que eu. A mulher desabou e ali estava apenas a menininha, sozinha. Coitadinha.

7 comentários:

Luana Duarte Fuentefria disse...

Me vi no teu lugar. Mas não teria coragem de publicar tais palavras. Tu é muito corajosa.

E malditas palavras que nos abandonam quando mais precisamos delas!

vitor disse...

ai, ananda... o tempo, o tempo... queria te dar uns aninhos, nem que fossem por segundo, para perceberes que o dia seguinte vai chegar, e o hoje um dia vai ser ontem, e tu vais ficando mais descolada, mais esperta, mas sabedora das coisas, e tudo começa, mesmo que tardiamente, a fazer sentido.

Thales Barreto disse...

Quem nunca passou por tal situação? Gostei do texto... Fez eu lembrar muitas coisas... Enfim... Parabéns. Bj. ;)

Samir Oliveira disse...

Ótimo texto!! A minuciosa descrição de detalhes no começo determina o espaço e contextualiza o leitor na cena, o que torna o texto ainda mais envolvente. Acho que muitos vão se identificar com o post, é uma situação quase universal. Mas a tua descrição foi inusitada e tensa, tem teu toque, tuas emoções.

Patrícia disse...

Nossa, quando comecei a ler não imaginei que fosse realmente sobre o término de algo. Como a Luana, acho que poucos teriam tal peito. O texto ficou ótimo.
Um conselho sobre a situação (embora se fosse bom o pessoal vendia e não dava): chore, lamente e bote tudo pra fora pelo tempo que precisar, uma hora tudo isso passa. Parece ser conselho de mãe, mas é a real!

Obs: já arrumei no meu blog a parte da perna, joelho e coisas do tipo!
Gracias pela dica!

Carolina Tavaniello P. de Morais disse...

Já até sei do que se trata. E sim, as palavras gostam de me abandonar também nessas horas. E tudo que se fala parece que não faz sentido, que não serve para nada, que é só gasto de saliva e assim por diante. Depois tudo se ajeita ;)
Adorei o jeito que tu descreveu. Me coloquei no tue lugar.
Beijos gêmea

Liza Mello disse...

bah,ananda... muito bom! sofri junto... o samir tem razão: a discrição minuciosa fez todo o sentido.